Fundamentos Teóricos do Grupo Reflexivo e de Apoio ao Luto

QUAIS OS FUNDAMENTOS TEÓRICOS DE UM GRAL?

Dentre os pressupostos teóricos do GRAL destacam-se os seguintes: processos reflexivos em torno do gênero e outras interseccionalidades; conceito de mutua ajuda; direito ao luto público; ética relacional; princípios terapêuticos grupais; e a perspectiva construcionista social sobre o processo elaborativo de luto. 

Processos reflexivos de gênero e outras interseccionalidades

Trabalhar com processos reflexivos em torno do gênero e outros marcadores identitários como raça, classe, deficiência, religião é uma ferramenta importante para dar visibilidade às estruturas sociais presentes na vida dos enlutados e que limitam suas  experiências no processo de enlutamento.  A partir do olhar sobre estas estruturas , compreende-se as posições de privilégio ou de vulnerabilidades sociais ocupadas por sujeitos enlutados. Estas posições tornam algumas vivências visíveis ou invisíveis para o próprio indivíduo e para a sociedade. A partir destes aspectos de vulnerabilidades sociais, são realizadas reflexões que buscam compreender como se processa a reação de invalidação do luto, ou seja, o fracasso de empatia e apoio ao luto nas interações da pessoa enlutada com os demais participantes do grupo ou ainda em relações familiares e outras.

Conceito de mútua ajuda

A mutua ajuda situa o luto individual no plano coletivo,  possibilitando a identificação do sofrimento do indivíduo com outras pessoas que apresentam experiências similares e que possam compartilhar das mesmas. Nesse sentido, a troca das vivências entre as pessoas enlutadas promove o acolhimento e apoio emocional entre os participantes, bem como o contato com exemplos concretos de indivíduos em diferentes momentos do processo de elaboração de luto. 

Direito ao luto público

O direito ao luto público significa ampliar o olhar dos participantes sobre as questões éticas que permeiam a construção do suporte grupal mútuo ao luto. Esse suporte deve levar em conta as interseccionalidades que giram em torno de quem morreu, quem é o enlutado, onde ele vive e qual é a sua cultura, gênero, sexualidade, raça, etnia, entre outras classificações. Alguns questionamentos são importantes para se construir o suporte grupal: o que acontece quando contamos, juntamente com o outro, os nossos lutos silenciosos e silenciados? Que sentidos são produzidos ao se reafirmar as necessidades de enlutamento de todos os participantes, considerando as questões de gênero, raça, etnia, classe social ou sexualidade? 

Ética relacional

Visamos no GRAL ir além da discussão da ética utilitarista usualmente utilizada pelas pessoas para avaliar os bons ou maus modos de viver o luto. Trabalhamos com a ética relacional, com os valores e as possibilidades de cada participante externalizar e revelar as histórias e os sentidos únicos sobre a perda vivida. Deste modo, buscamos promover a postura empática e ética quanto à produção de histórias de perda, bem como, atentar para a ocorrência da violência conversacional nos contextos de relacionamentos das pessoas enlutadas, as quais os sentidos da perda são impostos, ignorados propositalmente ou mal interpretados.

Princípios terapêuticos grupais

Buscamos desenvolver no GRAL os princípios terapêuticos grupais para fomentar e estabelecer relações de confiança e entendimento entre os participantes. Tais ações permitem, inclusive, que conflitos possam ser expressos. Ademais, significa a possibilidade de compartilhar a universalidade da situação vivenciada, trocar informações sobre os recursos de cuidado ao luto e aprendizagem mútua decorrente da percepção de alguns benefícios no enfrentamento de uma perda.

Perspectiva construcionista social sobre o processo elaborativo de luto

A visão construcionista social sobre o processo elaborativo de luto significa compreendê-lo como uma prática coletiva de dar sentido à perda. Isso significa trabalhar no GRAL com as seguintes  ideias: o protagonismo grupal enquanto promotor de suporte mútuo e a reautoria de cada participante na produção de narrativas sobre o self/eu. Essa produção de histórias pessoais sobre a perda vivida visa estimular a reconstrução de significados pessoais e idiossincráticos pelos participantes, sem desconsiderar que as narrativas são práticas linguísticas e de negociações em torno das necessidades de enlutamento considerando a vida relacional da pessoa enlutada e seu contexto(13).

Continue lendo nas próximas páginas.

Páginas: 1 2 3 4 5