Desejo que a leitura sobre "Ver o Luto" possa ser um guia reflexivo para você "Se ver no seu Luto" e trilhar um caminho de cuidado pessoal significativo.
Ivânia Jann Luna
♣Quando as perdas acontecem?
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Desde que nascemos as perdas ocorrem sem aviso prévio. As perdas podem parecer previsíveis mas, na maioria das vezes, são imprevisíveis, pois estão imbricadas às mudanças paulatinas no nosso desenvolvimento pessoal.
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Quando estamos com amigos e familiares é comum falarmos das perdas vividas na passagem da infância à adolescência. As perdas na vida adulta e presentes no envelhecimento pouco falamos.
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As famílias no seu ciclo de vida familiar também enfrentam muitas situações de perda. Os casais se ocupam com novas funções familiares quando os filhos crescem, sendo que tantas outras perdas podem ser percebidas durante a meia idade, como alterações da imagem corporal, dos projetos de vida e impactos na saúde. Os casais se separam, seja pelo divórcio e ou pela proximidade da morte do seu cônjuge. Amigos muito próximos também podem morrer ou outros membros da família, inclusive filhos adultos, adolescentes ou crianças.
♣ Podemos ser preparados antecipadamente para viver o luto pela perda de um vínculo afetivo?
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De acordo com a Psicologia do Luto não estamos ou somos preparados para perder um vínculo afetivo (de cuidado, de amor). Somos dotados da capacidade de formar e cuidar dos vínculos afetivos, bem como, expressar o quanto nos sentimos contrariados, consternados e tristes ao nos depararmos com a possível ruptura desse vínculo.
♣ Como sobreviver à morte ou a perda do que amamos?
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Quando formamos vínculos com algo ou alguém também podemos sobreviver à morte ou a perda do que amamos ou nos relacionamos. Sendo assim, a qualidade do que aprendemos na experiência de ter tido este vínculo afetivo, por exemplo, com relação a manter a nossa autoestima, que nos auxiliará a enfrentar o mundo e os desafios do desconhecido.
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Com isso queremos dizer que será a partir do que aprendemos sobre nós que podemos ir em busca de apoio e de quem nos faz sentir acolhidos neste mundo sem a pessoa amada ou situação de perdida. Ou seja, a nossa rede de apoio social ou pessoas significativas.
♣ Algumas situações trazem dificuldades ao luto?
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Podemos viver a perda de um ente querido em situação de morte prematura, súbita, inesperada ou catastrófica. As mortes podem ser causadas por um ato de violência ou um acidente ou ainda por doença, entre outras circunstâncias.
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A vida de algumas pessoas enlutadas pode ser pautada por sentimentos de luto contínuos e muito ameaçadores, pois as pessoas se sentem invadidas por reações desconhecidas e muito difíceis.
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Nossa capacidade em confiar no mundo e nos outros pode ser perdida, sobretudo, quando recebemos a notícia da morte de um ente querido sem o mínimo de respeito ou empatia. Surgem os sentimentos de raiva e desamparo direcionados às pessoas que comunicam notícias difíceis.
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Nos lutos ameaçadores temos preocupações contínuas e inacabáveis acerca dos detalhes da perda, pois não compreendemos ou não sabemos como esta ocorreu, como no casos de acidentes, doenças ou mortes por violência, no caso de homicídio ou suicídio, entre outras.
♣ Quais os desafios para enlutar-se diante do adoecimento grave de um ente querido?
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Nossa vida se transforma quando algum amigo ou familiar confia e compartilha conosco sua luta contra a morte devido a uma doença grave. Acompanhar a deterioração física ou ainda todas as perdas físicas e simbólicas associadas ao morrer e aos vínculos partidos despedaça nosso coração.
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Por isso, o luto antecipado pode ser uma das vivências mais concretas de sofrimento vividos por familiares e cuidadores, e até por profissionais de saúde, quando estão diante da perspectiva iminente da morte de seu paciente.
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Assim, mesmo vivendo um luto antecipado, a luta pela vida e retorno da saúde da pessoa que está doente continua> Busca-se reconhecer e se adaptar a todas as perdas que estão presentes na jornada de enfrentamento de uma doença que ameaça a vida. Porém, viver o luto antecipatório não nos prepara para a separação e ausência da pessoa após a sua morte, apenas nos dá oportunidade de reconhecer de forma gradual a ameaça de morte e todas as perdas que acompanham uma doença grave.
♣ Qual a importância dos vínculos e da rede de apoio quando vivemos um luto?
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Nossos vínculos de apoio podem significar redes de convivência e de proteção, quer seja pelos relacionamentos com amigos, avós, irmãos, primos, professores, colegas de trabalho, namorados ou namorados, cônjuges etc. Essa rede de convivência nos protege dos impactos da perda e isso chamamos de apoio social diante de um luto. Por isso, receber apoio dos vínculos de confiança diante dos desafios da separação de algo ou alguém que amamos é fundamental para o enfrentamento do luto.
♣ Podemos sentir vergonha ao estar de luto?
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De forma ampla, as palavras perda e luto geram desconforto para quem vive esse momento ou para familiares e amigos que, muitas vezes, veem estas situações como sinônimo de fracasso ou vergonha. Evita-se pronunciar as palavras perda e/ou morte. Contudo, não é vergonhoso admitir que possamos ter vergonha de ter perdido algo ou alguém ao longo da vida, ou ainda, de expressar um luto, pois conversar sobre perdas e lutos ainda é um assunto tabu em nossa sociedade!
♣ O que é estar e processar um luto?
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O luto ocorre dentro de nós e se expressa a partir do nosso corpo: emoções, sentimentos e estilos comportamentais.
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Costumamos dizer que as pessoas enlutadas vivenciam no corpo o seu luto por meio das emoções primárias, que as alertam que algo ameaçador ao seu equilíbrio interno pode estar ocorrendo. O luto é vivido no nosso cérebro primitivo (reptiliano), dotado para identificar situações de perigo à sobrevivência. Ou seja, a falta daquela pessoa ou situação de vínculo impacta a nossa visão sobre a nosso sentimento de segurança pessoal.
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O nosso cérebro primitivo percebe a mudança do equilíbrio interno e, por isso, deflagra emoções primárias, como o medo e raiva. Podemos ter também reações de congelamento, choque, desfalecimento, de evitação ou de luta contra o perigo iminente que é a separação física de alguém que amamos.
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O nosso corpo gera interpretações sobre estas emoções e vivemos vários sentimentos de luto, mas o principal deles é a ansiedade de separação e a tristeza pela falta de alguém ou algo.
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A ansiedade de separação é um sentimento que pode ser intensificado ao longo do dia e de diferentes formas. Pessoas enlutadas relatam se sentirem ansiosas por algo que está faltando em suas vidas e também muito tristes durante muitas horas do dia, semanas, meses e até anos. Somado à ansiedade de separação, a tristeza profunda, saudade, sentimentos de culpa, angústia, desamparo, irritabilidade, sensação de presença da pessoa que morreu e irrealidade da vida também podem ser sentidas pela pessoa enlutada durante muito tempo.
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Os sentimentos de luto também são processados em outros sistemas cerebrais - neocórtex- que são responsáveis em interpretar nossas emoções primárias de medo e raiva e o que significa a ansiedade de separação, ou seja, sentir o luto em toda a sua amplitude. Sendo assim, pessoas enlutadas podem ficar mais desatentas, esquecidas, ter baixa concentração, ficam introspectivas, baixam ou aumentam a energia, terlm fraqueza muscular, dor no peito, na cabeça, reações psicossomáticas, alergias, insônia ou hipersonia, recolhem-se socialmente e desconfiam das pessoas e de novos relacionamentos. Podem também aumentar o consumo de substâncias álcool, café, comidas, drogas ou medicamentos.
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Ao expressar o luto por meio do nosso corpo físico (cérebro) e, por meio de reações emocionais, as pessoas buscam reagir e expressar essas reações considerando sua idade, gênero ou crenças religiosas.
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O luto também se processa de fora para dentro de nós, por meio de vivências familiares e coletivas quando o direito ao luto público se consolida e recebemos apoio por empatia e consideração.
♣ As pessoas enlutadas têm diferentes estilos de comportamento para expressar o seu luto?
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Participam dos rituais de morte, velório, cremação ou enterro;
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Lembram-se das datas comemorativas da perda ou que lembram a pessoa que morreu;
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Desejan ver a pessoa que está doente no hospital.
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Contam histórias da morte da pessoa ou situação vivenciada para muitas outras pessoas.
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Fazem tatuagens que marcam o corpo do enlutado com frases, nomes ou imagens sobre a pessoa que morreu ou a força do amor;
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Escrevem e postam fotos nas redes sociais sobre a perda é outra maneira de expressar o que se vive, mas o mais importante é a procura da pessoa amada nas fotos especiais, perceber e chorar tantas vezes possíveis quando se vê a foto.
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De forma diferente, mas também congruente com o expressar o luto é isolar-se de pessoas, para evitar barulhos, conversas banais ou sem significados.
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Recebem cartas psicografadas
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Cultivam crenças espirituais e religiosas para encontrar um porquê e para quê da perda.
♣ Quais os caminhos das dores do luto?
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Há alguns caminhos das dores do luto que são trilhados pelas pessoas e que podem ser correlacionados com a teoria dos estágio de kluber-Roos (2002):
-A dor do deixar partir (choque, negação, raiva);
-A dor do dizer olá novamente (barganha e depressão);
- A dor do seguir em frente (aceitação)
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A DOR DO DEIXAR PARTIR significa a profunda ansia e desejo do reencontro com o ente que morreu ou objeto de apego e que se
expressa por meio de reações de choque, negação e raiva. As pessoas em choque não podem olhar para a perda e não veem o que aconteceu. As pessoas em negação evitam pensar no que aconteceu. Podem se distrair (indo a academia ou ao supermercado) ou ainda se ocupam com muitas coisas no seu dia a dia. Outras pessoas podem ficar com raiva e demonstrar muito sofrimento direcionado as mais variadas situações da vida ou mesmos às pessoas que a acompanham de forma muito proxima. Além disso, está presente a reação de intensa busca pela retorno à vida que se tinha antes da perda.
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A DOR DO DIZER OLÁ NOVAMENTE significa um caminho no qual se barganham sentimentos e comportamentos no dia a dia para se ter a pessoa de volta. Pode-se fazer isso sonhando com a pessoa que morreu, encontrando algum alívio para sentimentos depressivos, ou ainda, buscando aprender algo sobre o luto. A barganha pode significar também seguir algum aspecto da identidade e marca da pessoa que morreu, por exemplo, o modo de se vestir dela ou a forma como ela entendia a vida. Na barganha o caminho da dor do deixar partir é acrescido da esperança de reintegrar o vínculo e memorializar a reção com o ente ente querido. Na barganha vivemos das migalhas do amor, das lembranças dos dias felizes, vivemos também o desalento de chorar e não encontrar respostas ou pistas de que voltaremos a reencontrar aquele amor, mas também vivemos da esperança de amar novamente o ente querido e senti-lo próximo a nós.
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A DOR DO SEGUIR EM FRENTE significa aprender algo sobre si próprio e sobre as mudanças realizadas na vida mesmo diante de algo incerto ou algum objetivo de vida ainda indefinido. Aprende-se a deixar de fazer ou esperar certas coisas, mas também se está em busca de novos estímulos, novos papéis ou funções na família ou na sociedade.
♣ Quais as metáforas do processo de luto?
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Os enlutados estão construindo uma ponte para olhar para o passado, viver o presente e avistar um futuro equanto caminham com a dores do deixar partir, do dizer olá novamente e do seguir em frente.
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Os enlutados estão com uma ferida aberta, lidando com dores pungentes em processo de cicatrização, pois algo importante foi tirado de sua vida;
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Os enlutados estão compreendendo a complexidade do que é viver e amar, aprendendo a seguir em frente apesar da dor sentida;
♠ Reflexões finais
♠Formar vínculos e separar-se dele são as duas faces da mesma moeda, ou ainda, estar de luto é viver a outra face do amor que envolve a dor do deixar partir, de dizer olá novamente, com a esperança de viver tudo de novo. Significa viver com as migalhas do amor, das lembranças dos dias felizes, viver o desalento de chorar mas também de seguir em frente para encontrar respostas ou pistas de que é possível encontrar nova maneiras de viver.
♠Estar e processar um luto envolve ter recursos para viver este processo no contexto do nosso cérebro, do nosso comportamento, da nossa família e a nossa rede de relações sociais rumo a uma adaptação contínua e progressiva em um ambiente em transformação.
♣Eis alguns caminhos que muitas pessoas enlutadas trilham:
♣Caminho da generosidade e autocompaixão como forma de transformação de si e dos relacionamentos.
♣Caminho da amenização e controle do sofrimento por meio de medicações, terapias e imersão nos próprios sentimentos.
♣Caminho que visa encontrar rapidamente maneiras de seguir em frente, com novos propósitos de vida, mantendo o passado longe.
♠Entre a vida e a morte há os nossos vínculos afetivos, nossas perdas e os nossos lutos, e também as histórias que contamos sobre nós e a nossa de vida!
♠Para a maioria das pessoas, o amor é a fonte de prazer mais profunda na vida, ao passo que a perda daqueles que amamos é a mais profunda fonte de dor. Portanto, amor e perda são duas faces da mesma moeda. Não podemos ter um ser nos arriscar ao outro. (Colin Murray Parkes, 1996)